Uma ideia brilhante... Incluir!
A assinatura da Declaração de Salamanca, em 1994, veio vincular Portugal a construir e adotar medidas que promovam a inclusão na educação. É sob um olhar educativo, social e politico que a nossa sociedade, principalmente a escolar, tem obrigação de olhar para cada um como si próprio e defender a aceitação e participação de todos dentro das suas diferenças.
É uma ideia brilhante esta de inclusão, aliás já não é uma ideia, é real por leis, decretos-lei, regulamentos e afins. Mais uma vez vamos às burocracias e a discursos para passar a mensagem de algo tão simples - somos todos diferentes e temos todos o direito a desenvolvermos o máximo de nós nessa diferença. Parece, no entanto, que as leis e afins não bastam. Mais um ano letivo começou e mais uma vez vejo muita gente a usar a palavra inclusão sem compreender totalmente o conceito. Incluir não é integrar, incluir não é só para alguns, incluir não é fazer de conta que se inclui, incluir não é fingir que não há dificuldades... Incluir é compreender, incluir é para todos, incluir é ter trabalho, incluir é tirar de cada criança o melhor que ela tem apesar de todas e quaisquer dificuldades.
Como psicomotricista tenho o enorme prazer de fazer a diferença na vida de crianças com perturbações do desenvolvimento. Uma perturbação do desenvolvimento é para a vida e não vai desaparecer depois da escola. As escolas têm o papel principal de fomentar a funcionalidade e autonomia. Porém, como é que isto vai acontecer quando escuto Diretores e Professores a dizerem, na sua inocência e para deixarem pais felizes, que vão tratar os seus filhos como tratam qualquer criança dita normal? Normal? Quem é que é normal? Somos todos diferentes e únicos, e uma escola que trata crianças por iguais nunca ira desenvolver as capacidades únicas de cada um. Não é preciso ter uma perturbação do desenvolvimento para se ser incluído. Ser inclusivo é perceber o que há de único em cada um e puxar o melhor que poder vir daí.
A psicomotricidade como campo cientifico transdisciplinar reforça-se de conhecimentos nas áreas da pedagogia e da medicina e é um elemento diferenciador numa escola inclusiva. O psicomotricista vê cada criança nas suas forças, únicas e diferenciadoras. É estes elementos que passa para a sala de aula e em conjunto com a escola desenvolve os materiais mais adaptados para as aprendizagens, até porque, por exemplo, nem todos temos de saber falar, ler ou escrever, mas é muito importante que todos consigamos comunicar e usar ferramentas simples.
O caminho é definitivamente a inclusão, mas só se ela passar do papel para as ações. Para tal é urgente pensar na formação de todos os intervenientes educativos e na presença de técnicos especializados nas escolas. Tenha a criança uma perturbação do desenvolvimento, ou não consiga aprender matemática pela forma tradicional, ou perfeitamente "normal" tem direito a inclusão, porque no final todos somos diferentes e uma escola massificada não é nunca adequada. A Inclusão é para todos e não se coaduna com a escola que temos.
Sabia que:
O psicomotricista, enquanto membro da equipa multidisciplinar que acompanha crianças com necessidades educativas especiais, auxilia na correta avaliação e formulação do Plano Educativo Individual (PEI). O PEI é um instrumento vital para a inclusão e que determina a forma como cada criança será apoiada nas suas especificidades, podendo sugerir diversas alterações ao nível do apoio pedagógico personalizado, adequações curriculares individuais, adequações no processo de matricula, adequações no processo de avaliação e a formulação de um currículo especifico individual (CEI).
A educação inclusiva não se justifica hoje simplesmente porque é eficaz, porque dispensa os elevadíssimos custos das escolas especiais, porque corresponde ao desejo dos pais. Embora todas estas sejam vantagens inegáveis, a razão última que a baseia consiste na defesa do direito à plena dignidade da criança como ser humano, livre e igual em direitos e dignidade
Bénard da Costa, 1999