Literacia: o papel da linguagem e fala.
A Maria é uma criança de oito anos com um desenvolvimento dito normal que começou a falar, juntar palavras e formar a frases nas idades certas. Teve algumas otites quando era mais nova, mas os exames auditivos diziam que ouvia bem. Contudo, sempre foi um pouco trapalhona a falar, trocando alguns sons e revelando dificuldades na organização do seu discurso. Era uma criança que gostava da ir à escola, de aprender e que frequentava o segundo ano de escolaridade. A sua leitura era lenta, comparada à dos colegas da sua faixa etária, no entanto conseguia responder às questões de interpretação. Na escrita verificava-se também a existência de algumas trocas de letras, escrevendo e os seus textos eram desorganizados. Era uma criança distraída, que recorria muitas vezes à colega de carteira para que esta a relembrasse qual a instrução que a professora tinha dado. Mostrava alguma insegurança na realização das tarefas.
O processo de literacia inicia-se ainda antes do processo formal de aprendizagem de leitura e escrita, em idade pré-escolar. Melhor dizendo, a aprendizagem da leitura e escrita começa desde que a criança pratica e desenvolve a fala e a linguagem. Um bom desenvolvimento linguístico, ao nível do vocabulário, formação de frases, concordâncias nominais e verbais, consciência dos sons da língua e uma correta articulação permitem, posteriormente, um melhor desempenho na aprendizagem formal da leitura e escrita e previnem dificuldades.
No caso da Maria, as suas dificuldades eram devidas à consciência dos sons da sua língua e à forma como os discriminava, isto é, consciência fonológica. As trocas de sons produzidas oralmente bem como o seu discurso desorganizado repercutiam-se também na forma como escrevia.
É importante que desde cedo a criança esteja exposta a um ambiente literário rico. Mesmo quando a criança ainda não consegue ler, é importante que os pais lhe leiam histórias, utilizando uma entoação adequada e expressões faciais. Quando terminar façam-lhe perguntas acerca da narrativa. Quando a criança já sabe ler, incentive-a fazê-lo todos os dias um pouco. Quando surgir uma palavra difícil, ensine-a a ler sílaba a sílaba ou deixe que continue a frase e, no fim, volta à palavra. Para ajudar a desenvolver a escrita pode associar sons onomatopaicos ("zzz" da abelha) às respetivas letras que o representam.
Para uma aprendizagem com sucesso, é também necessário que os pais ajudem as crianças a desenvolver o gosto, motivação e expliquem qual a funcionalidade da leitura e escrita.
O papel da consciência fonológica
A consciência fonológica é uma competência linguística, trabalhada desde o jardim-de-infância, considerada como um pré-requisito para a aprendizagem da leitura e da escrita. É necessário um domínio da forma como os sons da língua materna são organizados, para, posteriormente formar sílabas, em seguida palavras e, por fim, frases. Só tendo um perfeito conhecimento destes conceitos, é que é possível fazer a sua correspondência escrita. Os pais podem ajudar a desenvolver a consciência fonológica, fazendo jogos onde façam questões como, por exemplo, "quantos bocadinhos (sílabas) tem a palavra pato" e "dentro do bocadinho 'pa' quantos bocadinhos mais pequenos existem?", "diz-me outra palavra que comece pelo bocadinho 'pa'?".
Sabia que:
A leitura torna as crianças mais calmas, ajuda-as a ganhar autoconfiança e poder de decisão.