E quando a borboleta não sai do casulo?

16-02-2016

Quando o desenvolvimento do bebé ou da criança está em risco é importante apostar na intervenção precoce.

Por vezes, chegam-me ao consultório crianças que, por serem muito novas, todos diríamos que era impossível terem já dificuldades. No fundo são as borboletas que estão num casulo e não têm força para o romper. Estas crianças normalmente vêm acompanhadas por razões pré, peri ou pós-natais como, por exemplo, a grande prematuridade, malformações congénitas ou a anóxia durante o parto, que justificam todas as preocupações Voltemos ao casulo... Este casulo que prende a borboleta (criança) que quer sair e voar. Como é que a podemos ajudar? É uma questão de combinarmos forças, de nos unirmos. Esta criança que está em dificuldades vive num grande ecossistema que tem a família, a escola, os cuidados de saúde, comunidade, etc. É o ecossistema que tem de se unir e ter como objetivo apoiar a família da criança a realizar os seus objetivos, promover o desenvolvimento da criança, promover a competência, independência, pertença e autonomia da criança, fornecer oportunidades de vida normalizantes e prevenir o aparecimento de novas dificuldades. Estes são os grandes objetivos da Intervenção Precoce. 


Acima de tudo, antes de existir o problema, a dificuldade, a disfunção, e sabendo de antemão que existe um risco muito provável de acontecer, já se está a intervir em todo o ecossistema para aumentar os fatores de proteção ao desenvolvimento da criança. O psicomotricista é um técnico precioso num processo de intervenção precoce, já que entende a criança na sua globalidade e através do jogo, da brincadeira, da relação tónico- -emocional envolve-se com a criança e todo o ecossistema protegendo o desenvolvimento da criança. Como qualquer processo de intervenção implica uma avaliação prévia, ampla, mas centrada na criança e família, para definir forças, fraquezas e objetivos de intervenção. Depois é traçado um plano de intervenção para a criança e o seu ecossistema. Como em qualquer processo este será continuamente avaliado ao nível de eficácia e eficiência. Agora que a borboleta tem todo o ecossistema a ajudar ganha mais força e será muito mais fácil romper o casulo, abrir as asas e voar.

Estima-se que uma média de 23% das crianças em países desenvolvidos tenham alguma dificuldade de desenvolvimento.

A MELHOR INTERVENÇÃO É A PREVENÇÃO

Já diziam os antigos que prevenir é o melhor remédio. Nas dificuldades do desenvolvimento esta é a máxima. A intervenção precoce "apanha" a criança num período do desenvolvimento ótimo, onde verdadeira magia acontece. Na realidade, a janela de tempo que vai até aos três anos é a mais rica em desenvolvimento neural, onde a criança tem cerca do dobro das conexões neurais de um adulto. É neste período que toda a intervenção deve ser feita, com vista a potenciar a manutenção destas conexões. Tudo o que se possa fazer é importante, mas mais importante é que tire 15 a 20 minutos por dia para se dedicar verdadeiramente ao seu filho. Pense nas suas necessidades de desenvolvimento e parta daí. Estimule mais a linguagem ou a motricidade global com coisas tão simples como ler-lhe um livro com ilustrações ou jogar à apanhada com ele.

Ricardo Fiúza in Pais&Filhos